ALMEIDA PRADO é hoje em dia um dos compositores brasileiros mais importantes fora do Brasil. Provavelmente, ninguém nascido dos anos setenta em diante tenha escutado alguma coisa dele. Nascido em Santos-SP, sua obra é vasta e inclui mais de 400 composições, desde formações camerísticas e solistas, até grandes formações sinfônicas. Nestes dias de música pós-tonalatual, CARTAS CELESTES, a obra mais conhecida de Almeida Prado, deve ser ouvida por eqüinos que curtem estrelas, planetas, sistemas solares e extra-solares.
No artigo da pesquisadora Adriana Lopes da Cunha Moreira, Almeida fala um pouco sobre sua obra: "A Carta Celeste composta em 1974 surgiu a partir de uma encomenda para um evento no Planetário do Ibirapuera. Tinha que ser uma “música de fundo”, que durasse 20 minutos, abstrata e que não tivesse uma temática muito nítida, para não distrair as pessoas durante o show das estrelas. Assim, a razão que me levou a compor foi totalmente material. Com a finalidade de dar unidade ao show do Planetário, criei livremente 24 acordes atonais, que correspondem a cada letra do alfabeto grego, e que, por sua vez estão associadas (nos livros de astronomia) a cada estrela, de acordo com sua luminosidade e grandeza. Este material não temático, mas fixo, substituiria um tema, porque a cada vez que aparecesse uma constelação, surgiria o acorde associado a ela (mesmo que quem estivesse ouvindo não percebesse essa relação). Eu quis começar a obra com um “cluster” em movimento. O piano com o pedal abaixado daria um tumulto de harmônicos que iriam se acumulando do agudo para o grave, criando uma espécie de poeira cósmica de luminosidade difusa e isso seria acompanhado pelo decrescer da luz no Planetário. Em seguida, apareceriam: o Planeta Vênus, a Via Láctea e as demais constelações, que se sucederiam de acordo com o roteiro que eu havia recebido do Planetário. No final, a luz ia aumentando e o movimento ao piano seria do grave ao agudo. Quando eu voltei às Cartas Celestes, em 1981, comecei a utilizar as ressonâncias inferiores. Compus as Cartas Celestes de nºs 2 a 6 conscientemente. Achei que havia criado um sistema que ao mesmo tempo é uma atitude muito livre, sem regras. É quase uma situação sonora na qual você se apóia às vezes."
O autor atribui a "paternidade" desta sua música a Debussy, Messiaen, Beethoven e principalmente Chopin.
As peças foram lançadas em um vinil em 1982 pelo Estudio Eldorado.